terça-feira, 23 de setembro de 2014

Boooooooom dia, Vietnam!!!!!
Vamos hoje tentar usar a imaginação, primatas. Imaginar uma situação hipotética. Hipotética, mas não fantasiosa: o rapaz é de origem humilde, viu amigos ou talvez parentes morrerem vitimas de latrocínio ou por estarem no lugar e hora errados quando algum traficante resolveu acertar contas com rivais. Cresce com aquela raiva de bandido e resolve virar policial, é treinado sob pressão de uma lavagem cerebral de um modelo opressor e ultrapassado. Dentro da corporação ele depara com o fato de que muitos dos seus colegas se aliam ao crime, fazem acordo com negociantes de drogas, que seus 'heróis' são apenas outra face do seu antigo inimigo. Ele não confia mais em qualquer um, nem nos fardados e nem nos marginais que ele persegue. Mas ele é incorruptível, ele deseja ver a lei cumprida, ele deseja ver as ruas limpas da escória. E esse ser obstinado recebe uma arma carregada e um distintivo. Quando este ser é confrontado com alguém que não aceita sua autoridade deturpada e se insurge contra seus excessos, o que ocorre?
Na outra mão, temos um outro rapaz de origem humilde, que também viu seus colegas ou talvez parentes perderem a vida para os mesmos latrocidas e os mesmos negociantes de drogas. Não teve instrução devida, não teve grandes chances na vida e o meio que conseguiu para seu sustento foi a venda de produtos clandestinos nas calçadas do centro da cidade, numa total informalidade. Ele não estupra, não mata, não assalta. Seu crime de vender produtos ilegais parece ridiculamente inofensiva diante da guerra do tráfico, da corrupção no governo e dos preços abusivos das grandes corporações. Então é confrontado com um policial que chega para lhe chamar de bandido e tomar dele seu sustento, ele que não mata, não assalta, não desvia verba dos postos de saúde e de recuperação de estradas.
Esta situação é meramente hipotética, macacos, mas não é irreal e nós sabemos disso. E não pretendo com ela justificar o assassinato de Carlos Augusto Muniz, nem pretendo condenar Henrique Dias Bueno, cada um defendendo aquilo que aprendeu a fazer, mas lamentando profundamente o episódio que apenas, mais uma vez, exibe não apenas o despreparo da polícia - que só devia sacar de suas armas letais quando suas vidas se vissem em possibilidade de risco, a frágil educação do povo - que deveria saber que não se deve entrar em embate físico com uma pessoa armada, mas exibe também, de forma bastante clara, o nível de tensão que vivemos. A polícia ainda é a lei, mas a lei não é mais pelas pessoas e faz tempo que ninguém se sente exatamente protegido ou seguro na presença da polícia. O povo não conhece mais autoridade, e se isso é bom para se iniciar um levante popular contra instituições opressoras, é péssimo quando resulta em alunos que agridem professores - os casos são muitos e num deles uma professora quase perde a visão de um dos olhos, ou agridem seus pais e avós. Notem, macacos, que aqui só falamos de UM evento. UMA possibilidade envolvendo pessoas menos favorecidas.
Quando você vê aquele carro de luxo com um adesivo Fora Dillma (com os dois Ls verde e amarelo numa clara alusão ao ex presidente Fernando Collor, deposto de seu cargo) você enxerga ali uma pessoa indignada com a corrupção do governo? Uma pessoa pessoa que se sentiu traída pelo partido que jurou defender o povo? Uma pessoa preocupada e comprometida com as causas sociais? Você consegue enxergar ali, naquele sedã ou naquela caminhonete de R$ 100.000,00 uma pessoa que diz 'Fora Dilma! Fora PT! chega de exploração aos trabalhadores, chega de hospitais sucateados, chega de supersalários para juízes e parlamentares!'? Ou você vê ali a indignação de quem não pode mais manter uma empregada doméstica naquele regime escravagista, aquela pessoa que não se sente mais tão destacada porque os shoppings estão repletos de gente com a cara dos subúrbios de onde vinham suas empregadas, gente com medo de não poder mais ser médico fantasma de hospital público?
Acho que já dei meu recado, macacos, porque o mundo é escamoso, vai por mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário