Boooooom dia, Vietnam!!!!
Finda a euforia do Carnaval, de volta àquela mesma vida que você fingiu não existir ou não ser sua: seu casamento que não lhe faz feliz, seu filho que você não sabe educar, suas contas a pagar se amontoando sobre a mesa, aquele seu caso extraconjugal esperneando para sair de sob o tapete, aquele trabalho que lhe deprime e toma quase todo o seu tempo... espero mesmo que esteja feliz, primata.
Enquanto você jogava confetes e se encharcava de cerveja, provavelmente ignorava por completo que os custos da Assembléia Legislativa se tornam maiores no período de recesso - que os deputados justificam como sendo um período de muitas visitas ás bases... o caralho! É nossa grana sendo torrada com passeios e farras de férias desse bando de filho da puta. E você achando graça, vestido de árabe e dançando com a multidão. Quanto orgulho você deve ter de si mesmo...
Enquanto isso, enquanto cada imbecil macho ajeita o cabelo para parecer um jogador de futebol milionário para impressionar um imbecil fêmea, as ruas estão cheias de vendedores de crack, porque estão também cheias de consumidores. Famílias - boa parte delas já formadas sem estrutura nenhuma, com mães adolescentes e pais violentos, ambos inconsequentes e sem noção exata de cidadania - desmoronam todos os dias. Você freva atrás do bloco enquanto uma polícia despreparada tenta conter a violência que é produto final da sua alienação. Você samba e rebola, primata, e deixa que a sociedade permaneça cheia de chagas, das quais você só lembra quando lincham um estuprador numa favela, quando a polícia recolhe alguns cadáveres num matagal, quando um viciado em crise mata alguém à tiros ou facadas.
Samba, macaco, que a vida é boa. Samba que o mundo é lindo. Vai cantar o frevo da novela, vai seguir o bloco do Campeonato Estadual, se junte à maior multidão de alienados que o carnaval dura o ano todo, o que muda é o tom da marcha do samba, do frevo e do axé. Todo dia é festa no Brasil dos doentes, dos sub-empregados, dos mendigos na rua, dos senadores milionários, das alpinistas sociais, por que o mundo é escamoso, vai por mim.