sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Booooom dia, Vietnam!!!!
Agora que todos esqueceram o mar de lama em Minas Gerais e os atentados em Paris, hora de perguntar: quem são vocês? Quem são vocês agora? Por quem vocês oram  hoje? Quem mais são os cinco - dentre tantos e tantos e tantos - fuzilados pelo Estado por serem negros e pobres da periferia? Quantos de vocês são ribeirinhos mortos de fome - como tantos e tantos que morrem de fome ai do seu lado, na marquise, sob a ponte? Quem vai ser o primeiro a tirar o olho da lupa para olhar o tamanho verdadeiro do estrago? para ver seu deus e seu demônio de mãos dadas? Quem vai deixar de pensar em amanhã e pensar no depois e depois? Quando vão deixar de jogar confetes sobre cada novo horror? Qual o próximo filtro você vai aplicar sobre sua foto? Quem foi preso? Quem pegou a conta? Quem ainda vai pagar? Mais amor por quem?

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Boooom dia, Vietnam!!!!

"Comunista bom é comunista morto!". Adoro essa máxima, macacos. Ela diz muito sobre o seu caráter, ela deixa claro muita coisa sobre quem é você na sociedade.
Imaginem vocês um mundo onde houvesse menos exploração, melhor divisão da riqueza, um mundo socialista - ou comunista como muitos preferem chamar. Não, não, macacos, não falo em negros favelados morando na sua varanda goumet nem pegando seu amado SUV emprestado, não. Eu falo em um mundo onde todos fossem engenheiros, ou médicos cirurgiões, juízas, dentistas, arquitetos, profissionais liberais ou artistas bem sucedidos, todos tivessem empregos com elevada qualificação e boa remuneração, ninguém precisasse viver de caridade ou favor e todos pudessem ter acesso a quaisquer bens de consumo, lazer e cultura. Pois é, creio que neste mundo não haveria muito o que você ostentar, nem muita gente para lhe servir. Você teria de varrer e encerar o piso da sua sala impecável e lavar sua privada, porque aquela moça seria estilista, ou advogada. Possivelmente você ia ter mais cuidado com seu lixo, porque os garis seriam bem escassos e eu tenho quase certeza que você mesmo teria que engraxar seus sapatos e abastecer seu carro dos postos de combustível. É disso que estamos tratando aqui, meu velho. Você odeia a noção de um mundo comunista porque ela ameaça sua preciosa superioridade social, sua sensação de estar acima de alguém, ela reduz a distância entre você e demais classes sociais.
Quando deparo com "comunista bom é comunista morto!", é difícil não associar a frase ao um pensamento de meio século atrás, quando a referência de comunismo eram as atrocidades de Stalin - que vale ressaltar eram bem distantes do idealismo socialista, ou seja, a pessoa que a profere estagnou no tempo e se atem ao fundamento ideológico do fascismo e toda a repressão e truculência inerentes a tal, incapaz de aprender o que de fato é socialismo e reconhecer que o mundo carece de modelos justos de sociedade e política.
Você, macaco que quer matar todos os comunistas, ao fim das contas, é meramente uma pessoa mesquinha, retrógrada e com tendência a uso ostensivo da violência. Você não quer igualdade, você não quer liberdade, você não quer o bem de todos. Assim, fique a roer seu repúdio aos homossexuais, que em sua covardia você muitas vezes sequer assume (eu tenho até amigos gays), sua aversão aos negros (mas minha empregada doméstica era negra e minha familia adorava ela, pena que ela passou a ter direitos trabalhistas e eu tive que mandar embora) e seu desprezo por quem não adora num homem que morreu na cruz - ironicamente defendendo todos os valores de paz e liberdade que você combate obstinadamente.
O mundo é muito, muito escamoso, macacos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Boooom dia, Vietnam!!!!!
O que vou propor agora, tristes macacos, é uma coisa simples, como aquela orientação que fazem os terapeutas, para esvaziar a mente e relaxar. Tentem somente deixar de lado suas convicções quotidianas e suas aflições pessoais e observarem com dedicada atenção para duas pontas que parecem distantes no mar, mas sob a superfície podem muito bem estar ligadas num bloco de gelo pavorosamente grande. Num olhar simplista, Herinaldo Santana e Aylan Kurdi nada tem a ver além de serem ambos crianças, serem ambos de família pobre e estarem ambos mortos. Um deles, morador de periferia, com a cor e aquela aparência que uma sociedade excludente e segregacionista considera o rótulo da pobreza, do indesejado, típicas do marginal. O outro, certamente vindo de alguma zona suburbana, enfrentou tamanha pobreza e violência que os pais, em desespero, preferiram fugir para um país mais promissor que aquele onde nasceram. Um morreu nesta fuga arriscada em busca de uma segurança, uma fartura e dignidade que lhes fora negada, expondo as mazelas consequentes da exploração e da desigualdade na divisão das riquezas do mundo, mostrando que a invejada e almejada riqueza da Europa não é fruto meramente de seu esforço, mas também do seu passado explorador e usurpador. Outro morreu em consequência de sua origem humilde que o tornou, aos olhos de quem controla a sociedade, em escória, o tipo de indivíduo que, se não está carregando nas costas as classes dominantes, é uma ameaça armada à civilidade, aos direitos de consumir e que deve ser executado pelo aparato considerado mais eficiente para manter a ordem: a polícia.
Ambos acabam sendo indicadores de uma pandemia de intolerância, de desigualdade, de falência de valores ultrapassados cujos defensores, atuais detentores do poder aqui no Brasil e pelo mundo todo, se recusam a aceitar e assumir sua responsabilidade de rever.
Vão chamar Herinaldo, com seus 11 anos perdidos à bala, de bandido - ou projeto de - mas vão chamar Aylan de anjo e vão fechar os olhos para o massacre dos povos indígenas sob a mão de ferro do progresso predatório. Da mesma forma, há na Europa quem festeje a morte de Aylan, juntamente com um número indizível de outros fugitivos da África e Oriente Médio, pois estes são a escória que macularia a civilidade limpa e reluzente da Europa. E há, ainda, os que aqui no Brasil sugeriram mandar nordestinos em embarcações precárias e improvisadas para se afogarem tentando chegar á Europa, e há os que, na omissão do estado e do alto de seus direitos de classe abastada e branca, promoveram mais um ato na guerra social brasileira agredindo moradores da periferia que estavam ali, em território de elite.
Todos os dias se fala em crise, em alta do Dollar, de lojas encerrando atividades, cada um defendendo um interesse próprio que ignora, muitas vezes voluntariamente e em interesse próprio, que a única e verdadeira crise é a da Humanidade, do Capitalismo como ele é. Uma mera consequência de todas as atrocidades que o ser humano vem perpetrando desde que o primeiro macaco se pôs de pé e empunhou uma clava alguns milhões de anos atrás.
Mas, claro, basta eleger outro para presidente e tudo há de melhorar de pronto. O culpado é, obviamente, um só. E toda a histeria feminista será silenciada, porque o feminismo se provará desnecessário e os homens, assim como a luta dos que suportam as causas LGBT, pois a discriminação contra homossexuais é tão irreal  e superestimada quanto o machismo, a sociedade será igualitária e todos terão direitos iguais se não forem negros nem viverem nas áreas mais pobres das periferias e assim será com uma série quase infinita de pequenos e grandes massacres sociais, dentro e fora do Brasil. A ignorância que condena o fraco perdoa o forte, esta é a premissa da tragédia dos macacos falantes que começa do outro lado da rua, com um mendigo que foi queimado vivo e termina em genocídio, com ameaças às selfies e curtidas por conta da alta do Dollar.
O mundo é escamoso, vai por mim.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Booooom dia, Vietnam!!!!
Após um longo e minucioso silêncio, enquanto estive a observar vocês rosnarem sua eterna mesquinhez e babarem suas convições de papel , achei que era hora de proferir algumas sentenças novamente. Vocês não aprendem, mesmo. Vocês não cansam de julgar e avaliar o mundo sem tirar os olhos do microscópio apontado para o próprio umbigo. São estúpidos demais para perceberem que, a depender quem você seja e o que faça para pagar suas contas, o Brasil pode estar atravessando uma recessão grande, ou você pode estar enchendo de dinheiro essa sua bunda simiesca ao custo de alguns suicídios, depressão e penúria de uns infelizes que você não conhece nem dá a mínima. E mais ainda, a recessão hoje instaurada no país é o reflexo de uma crise econômica global que há anos iniciou-se nos mercados da Europa e EUA. Você acha mesmo que o Brasil, só por ter uma bandeira verde, amarela, azul e branca ia escapar impune? Mais uma: se você não fosse um primata burro, egoista e ganancioso como é, certamente teria percebido que um modelo de economia e distribuição de recursos que concentra a maior parte da riqueza nas mãos de uns poucos e deixa a menor fatia para que uma maioria se digladie pelas migalhas fatalmente vai colapsar.
Depois de tirar os olhos do microscópio e ter uma ideia mais clara da dimensão e da natureza do problema, aparentemente inerente á sua condição de macaco falante, ai sim você toma uma luneta e amplia um pouco o quadro para ver mais de perto as fissuras na estrutura. Gente que sobrevive em vez de viver. O desgosto no rosto de seus neoescravos mal pagos que levam uma vida miserável, formando filas nas lotéricas, ajoelhando-se nas igrejas, afogando-se nos bares quando podem. Olhando mais de perto, vemos que estes escravos não sabem mais educar seus filhos, que sem educação são sabem como viver em sociedade, tornando-se dispersos e hostis e incapazes do sucesso. A menina viúva aos 14 anos porque o marido de 16 foi morto numa chacina, a professora que ficou cega após ser agredida por um aluno e uma série de outros sintomas bem graves de uma doença que começa longe, na tendência que você, macaco imbecil, tem de querer ter mais do que aquele outro macaco ao seu lado. A ganância, o egoismo, a mesquinhez dos primatas. Se pudessem olhar seus egos no espelho veriam seres horrendos, intumescidos, morbidamente obesos, doentes. E ai se convencem que fechar os olhos e ouvidos os protegerá das consequências do desastre já anunciado. Sempre esperando que o outro tome a iniciativa de deter o processo, sempre acreditando na própria inocência, sempre achando que fez e faz o suficiente por um mundo melhor.
Então permaneçam onde estão macacos, achando que não há injustiça social e econômica, que não há racismo, nem machismo, nem discriminação, que os imigrantes haitianos não foram agredidos por serem negros e pobres, que desfilar de verde e amarelo vai acabar a corrupção, que a fé em deus e o dízimo vão sanar todos os problemas, que aquele rapaz não foi espancado e morto porque era homossexual.
O mundo é escamoso, macacos. Bem escamoso,

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Boooooooom dia, Vietnam!!!!

Vamos bater panela! Vamos bater panela pelo bando de cheira-cola imundo dormindo debaixo de marquise! Vamos bater panela pelas prostitutas viciadas em crack, pelas travestis espancadas, pelas mulheres esfaqueadas! Vamos bater panelas pelos patrões que não querem que você seja tatuado nem use brinco e nem seja você! Vamos bater panela para acabar com a corrupção! Vamo bater nos professores que pedem aumento. Vamo bater nesse bando de veado que quer ter direito como se fosse gente! Vamo protestar contra a corrupção e contra os direitos de quem trabalha! Vamos bater panelas nas varandas gourmet e vamos exigir nossas bolsas Louis Vuitton e Prada! Vamo protestar contra essa gente que recebe miséria! Vamos bater panela pra ninguém ouvir a sonegação fiscal. Vamo bater com força nas panelas, porque ninguém escuta quem bate lata na favela! Vamo protestar contra nosso povo desunido, racista, mesquinho, sexista, homofóbico, segregador, oportunista, corrupto, opressor e alienado! É a festa do trabalhador que se fodeu com os direitos roubados, o protesto das cidades vendidas aos empreiteiros, da não-distribuição de renda, a democracia dos professores espancados, dos políticos milionários, das grandes dívidas perdoadas, dos padrinhos e afilhados de cifras astronômicas, dos negros assassinados na periferia, da meritocracia dos que nasceram com a vida ganha, a festa da intolerância religiosa e social, o carnaval do Brasil justo ao alcance de todos, é só vir pagar!
O mundo é escamoso. Bem escamoso. Vai por mim

domingo, 15 de março de 2015

Boooom dia, Vietnam!!!!
Agora que vocês macacos já gritaram e carregaram seus cartazes, já fizeram suas fotos sorridentes e apareceram na Globo, vamos falar das manifestações deste domingo dia 15.
Nada é mais justo e mais democrático que manifestar publicamente a insatisfação com o governo, gritar por melhorias e pelo fim da corrupção, sobretudo porque sim, Dilma Rousseff promoveu recentemente o arrocho aos trabalhadores que negou em sua campanha eleitoral, assim como o aumento das contas de energia e uma série de outras medidas que comprometem, num efeito cascata, a qualidade de vida da população e sim, o toda a estrutura política do país se encontra corrompida. O problema é boa parte - talvez a maioria - dos manifestantes vestidos de verde e amarelo pregam que apenas o atual governo é corrupto, que Aécio Neves e seus coligados são a salvação imaculada da nação. É difícil se juntar a tais manifestações que pedem a instauração de uma nova ditadura militar e, principalmente porque, aparentemente, jamais se importou com os direitos de quem sempre - SEMPRE - foi oprimido pela exclusão social inerente a uma economia capitalista e uma corrupção institucionalizada em todos os setores da sociedade.
É muito difícil considerar justa e certa a insatisfação de muitos que, caso o governo do PSDB ou mesmo uma ditadura militar continuasse uma administração pública desastrosa e que afetasse a parcela da sociedade que sempre afetou, jamais iria expressar indignação ou dar alguma importância. A insatisfação é verdadeira para muitos, e o povo deve sempre se insurgir contra um governo que se mostra seu oponente em vez de seu defensor. Mas quando os gritos de indignação não parecem questionar por que ainda existem favelas, por que ainda existem tantos miseráveis, por que o racismo ainda permeia as relações dentro da sociedade, por que existe uma Bancada Evangélica pressionando o governo e sustentando seus preconceitos fundados em convicção religiosa, por que não há uma reforma tributária justa se percebe um desafino na melodia. Isso sem mencionar o perigo dos valores morais defendidos pelos mesmos macacos abraçados em bandeiras nacionais, com sua homofobia e seu machismo declarados, seu racismo velado mas nem tanto, sua admiração por uma polícia que mata um pobre com a mesma facilidade que ignora falcatruas de juízes e advogados. Para estar lado a lado com estes, unindo minha voz às suas, prefiro deixá-los gritar sozinhos por um país justo onde os pobres sejam pobres, onde seus parentes e amigos - e apenas eles - possam ser corruptos, onde os negros sejam sempre seus subalternos, suas mulheres sejam as mães frígidas de seus filhos, todos guardados por deus, porque o mundo é escamoso, vai por mim.
P.S. - Azar de vocês, macacos, traídos pelo PT, prensados contra o PSDB e burros demais para mudar isso.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Booooooom dia, Vietnam!!!!

Eu não vou defender Dilma Rousseff, nem o PT, ambos bem aparelhados juridicamente e que não me pagam 1 centavo para tal. Na verdade, acho bastante sensato uma oposição ao governo, visto que o mesmo tem perdido as rédeas da economia, vem sendo negligente com os interesses do povo e das causas ambientais e indígenas e, a exemplo de todos os outros governos anteriores, tem dado todas as provas de sua corrupção. Isso, macacos, não significa que eu apoie a deposição da presidente e o empoderamento de Aécio Neves, menos ainda, óbvio, a instauração de um regime militar. Mas considerem que a 'direita' - entre aspas, porque o PT há muito deixou de representar os ideais da 'esquerda', tornando-se apenas mais um partido a exercer o poder em conivência com os detentores do poder monetário num sistema chamado Estado e onde não há esquerda e direita e sim que fatura e quem não - houvesse se mantido no poder esta década passada e o país se encontrasse hoje neste mesmíssimo e exato estado, em idêntico clima de recessão, eu me pergunto se haveriam panelaços, se não haviam os que defenderiam cada medida econômica como atos meramente necessário à manutenção da estabilidade financeira do país. Forçando mais um pouco a balança, imagine que tais medidas econômicas, para além da já conhecida corrupção, causasse a depreciação da qualidade de vida das camadas menos abastadas da população, a classe média tomaria para si as dores e se mobilizaria com o mesmo ódio e a mesma determinação contra o governo como hoje se vê? Vocês, macacos, conseguem ver a classe média indignada com o sucateamento da saúde e educação públicas? Com a exploração dos trabalhadores, com o baixo salário mínimo, com a maneira escravagista que se conduz o trabalho doméstico?
Enquanto o governo não funcionar, não houver um compromisso para com o bem estar do povo - e inclua-se ai a cooperação do poder privado, encarnação do demônio da ganância - façam-se manifestações e que se cobre soluções para as dificuldades da população. Façam-se toda sorte de protestos e reivindicações legítimas, que sejam acuados os responsáveis, mas conheça seu inimigo. Perceba quem defende os que sempre foram oprimidos e privados de dignidade, quem de fato é contra a corrupção que sempre degenerou a classe política e empresarial, quem tem uma noção de justiça social que vá além de seus próprios interesses. Entre os que gritam junto a vocês por melhorias, macacos, estão muitos que querem lhe por o jugo, porque o mundo é escamoso, vai por mim.
Boooom dia, Vietnam!!!!

Sobre a corrupção: os políticos desviam verbas, fazem acordos, apadrinham enriquecem absurdamente com o dinheiro público. os grandes empresários e investidores fazem acordos e manobras fiscais, sonegam, subornam. O cidadão pega propina ao policial, assim como o assaltante e o traficante. Este último muitas vezes se associa a algum deputado ou vereador, a um delegado. O rico faz o que pode, pressiona políticos, tudo para pagar menos, para explorar o quanto puder seus funcionários. Carregando quase todo este peso, o trabalhador às vezes desvia energia elétrica, desvia água, enrola no expediente. No casamento, quase todos escondem seus relacionamentos extras, seus filhos com outras mulheres. Há ainda os que roubam seus empregadores, mesmo aqueles que resolveram lhes dar uma chance e uma ajuda. Pronto, macacos, podem falar de corrupção à vontade agora, porque o mundo é escamoso, vai por mim.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Boooooooooooom dia, Vietnam!!!!
Imaginem, macaquinhos desprezíveis, os eventos a seguir: um rio corre através das terras. Um macaco mais astuto, observando a terra desabitada ali, constrói uma represa para que o volume de água para si seja maior. Com o lago formado ele melhora o cultivo das terras ao redor, criando uma terra de benesses. Logo alguns amigos e parentes seus se juntam a ele, constroem encanamentos para aproveitarem a água acumulada e todos ali vivem felizes em prosperidade. Enquanto isto, a jusante da represa, muitas famílias vêem o rio minguar diante de si. A escassez da água trás a penúria, a dificuldade de se obter recursos, de levar suas vidas. Chegam à eles os rumores de uma terra de felicidade e riqueza, e para lá vão rumando em busca de vida melhor. Ao chegarem nas terras da represa, claro que não são bem vindos de pronto. Não são parentes nem amigos daqueles que lá estão, vêm fatigados da caminhada, com a miséria estampada no rosto e nas vestes. Mas, com alguma conversa, é permitido a um e outro ficar por ali. Há sempre buracos a serem cavados para instalação dos encanamentos, tubos pesados e sujos a serem trocados por novos, uma casa a ser limpa, roupas e serem lavadas, vigiar os filhos dos donos da água, estes agora muito ocupados em vistoriar os encanamentos por onde a preciosa água circula, estudar maneiras de juntar mais água - quem sabe até ampliar a represa - e, claro, desfrutar da sua riqueza em festas e passeios. Os que não foram aceitos nas terras ricas da represa, estes tiveram que dar seu jeito de sobreviver. Uns passaram a mendigar, outros foram para longe, outros mudaram-se para as vizinhanças da represa em busca de sobras ou, vez por outra, entrando ali furtivamente e usurpando para si uma fração mínima de toda aquela riqueza. E assim viveram todos, uns felizes para sempre, outros nem tanto, e muitos pereceram e ainda perecem na esperança de um dia desfrutar da água.
Qualquer semelhança da estorinha acima com o capitalismo é mera verdade. Não desmerecendo as longas noites insones e horas de estudo, nem desmerecendo o esforço, mas nós sabemos que vocês, macacos, adoram ter. Ter, no sentido mais mesquinho do verbo. Vocês reclamam que as pessoas são julgadas pelo que têm, pelo que ostentam, mas sequer se dão conta de que o ser humano não está feliz com o que tem, e sim com o que tem a mais. Um macaco só vai estar feliz em ter um carro, uma casa, uma esposa e dois filhos se a maioria dos macacos andar a pé, tiver uma esposa desagradável, morar num casebre bem longe e seus filhos forem engraxates. Aí começa todo o malVocês macacos não querem o melhor para si, vocês querem melhor do que o dos outros, e jamais são felizes sem ver outro primata na pior. E ainda tem a desfaçatez de vir com falácias de educação, humildade, um mundo melhor...
Quer mudar o mundo, humano, comece mudando a si mesmo. Vamos ver se você consegue, mas eu duvido, porque o mundo é escamoso, vai por mim
P.S. Como se fossem poucos nossos problemas com um governo e um empresariado formando uma vasta e sólida estrutura de corrupção explorando e alienando o povo, temos também agora que lidar com o fundamentalismo religioso. Atentem para os Gladiadores da IURD

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Boooooom dia, Vietnam!!!!
Nem todos vocês primatas sabem, mas os ratos brancos de laboratório são de uma espécie conhecida popularmente como rato-marrom, uma espécie de rato arisca e propensa a agredir quando acuada, Logo, na necessidade de domesticar os ratos, foram sendo selecionados os indivíduos mais mansos do grupo para reprodução sucessivas vezes, até se conseguir uma linhagem de ratos dóceis, fáceis de lidar e que podiam ser mantidos sem dificuldades em cativeiro. E o padrão genético dos ratos mais mansos trazia também, uma supressão da pigmentação dos ratos, fazendo-os nascerem brancos. Logo, ratos de laboratório não são ratos brancos. São ratos mansos. A brancura da pelagem é somente uma consequência secundária inerente aos seus genes.
Outro dia vi uma propaganda de um brinquedo cujo horror do slogan passa despercebido da maioria das pessoas: o menor helicóptero de controle remoto do mundo, projetado para ambientes internos! Isso mesmo. Um helicóptero de controle remoto feito para voar na segurança de uma residência. Você, macaco, pode até imaginar um menino feliz da vida pilotando isso na segurança do do seu lar enquanto a vida, o mundo, estão lá fora. O mundo, bom ou ruim - e aqui eu digo sem medo de errar: RUIM - está lá fora. Assim como os pelos brancos dos ratos de laboratório não podem ser dissociados da sua mansidão, há traços comportamentais que seguramente estão atrelados a outros, e não é difícil perceber isso. Quando imaginam a criança pilotando um brinquedo aéreo desenvolvido para ambientes fechados, vocês imaginam mesmo um menino mal vestido, com os braços e pernas marcados de surras e picadas de insetos pilotando este brinquedo ridículo no interior de um casebre na periferia? E quando falo do mundo do qual a criança feliz da propaganda é apartada ao pilotar seu brinquedo em seu ambiente fechado e seguro, eu falo das cidades que foram construídas na exclusão de uma classe e ao prazer de outra. Não é difícil imaginar as ruas como um ambiente hostil. São pouco arborizadas, sufocantes, são sujas, há ladrões e viciados à espreita. É mais fácil se trancar. Acordar trancado em casa, sair trancado no carro, passear trancado no shopping, brincar trancado em casa. Trancado e ignorando as mazelas deste modelo de sociedade. Trancado em casa, a fealdade e o fedor da pobreza são apenas imagens na tela de alta definição da sua TV, do seu smarphone, do seu tablet. São algo que um governo corrupto ou a falta de caráter e de esforço familiar produziram, não o capitalismo. Uma coisa que oito a dez horas de trabalho árduo pode suplantar, basta querer, ou talvez mais fé em deus para que ele recompense sua lealdade ou, em ultimo caso, alguns policiais armados e dispostos podem dar jeito. Trancado em casa não se vê o mundo em franca degradação, não se vê o lixo nas praias, o desflorestamento. Não se vê os reservatórios secarem. Trancado no shopping não se vê a corrupção do governo, não se vê a ganância criminosa dos investidores e especuladores. Trancados, tratam com a devida distância os elementos que vem de fora. A doméstica, o porteiro, o zelador, a faxineira do escritório. E assim, trancados, não atentam para a febre-da-cabana, fala-se em dividir o país, pede-se a volta da ditadura. E trancados vão vivendo, consumindo, se consumindo.
Aparentemente, macacos, não foi somente o pequeno helicóptero que foi desenvolvido para ambientes fechados. E dentro e fora, o mundo é escamoso, vai por mim.