quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Boooooom dia, Vietnam!!!!
Nem todos vocês primatas sabem, mas os ratos brancos de laboratório são de uma espécie conhecida popularmente como rato-marrom, uma espécie de rato arisca e propensa a agredir quando acuada, Logo, na necessidade de domesticar os ratos, foram sendo selecionados os indivíduos mais mansos do grupo para reprodução sucessivas vezes, até se conseguir uma linhagem de ratos dóceis, fáceis de lidar e que podiam ser mantidos sem dificuldades em cativeiro. E o padrão genético dos ratos mais mansos trazia também, uma supressão da pigmentação dos ratos, fazendo-os nascerem brancos. Logo, ratos de laboratório não são ratos brancos. São ratos mansos. A brancura da pelagem é somente uma consequência secundária inerente aos seus genes.
Outro dia vi uma propaganda de um brinquedo cujo horror do slogan passa despercebido da maioria das pessoas: o menor helicóptero de controle remoto do mundo, projetado para ambientes internos! Isso mesmo. Um helicóptero de controle remoto feito para voar na segurança de uma residência. Você, macaco, pode até imaginar um menino feliz da vida pilotando isso na segurança do do seu lar enquanto a vida, o mundo, estão lá fora. O mundo, bom ou ruim - e aqui eu digo sem medo de errar: RUIM - está lá fora. Assim como os pelos brancos dos ratos de laboratório não podem ser dissociados da sua mansidão, há traços comportamentais que seguramente estão atrelados a outros, e não é difícil perceber isso. Quando imaginam a criança pilotando um brinquedo aéreo desenvolvido para ambientes fechados, vocês imaginam mesmo um menino mal vestido, com os braços e pernas marcados de surras e picadas de insetos pilotando este brinquedo ridículo no interior de um casebre na periferia? E quando falo do mundo do qual a criança feliz da propaganda é apartada ao pilotar seu brinquedo em seu ambiente fechado e seguro, eu falo das cidades que foram construídas na exclusão de uma classe e ao prazer de outra. Não é difícil imaginar as ruas como um ambiente hostil. São pouco arborizadas, sufocantes, são sujas, há ladrões e viciados à espreita. É mais fácil se trancar. Acordar trancado em casa, sair trancado no carro, passear trancado no shopping, brincar trancado em casa. Trancado e ignorando as mazelas deste modelo de sociedade. Trancado em casa, a fealdade e o fedor da pobreza são apenas imagens na tela de alta definição da sua TV, do seu smarphone, do seu tablet. São algo que um governo corrupto ou a falta de caráter e de esforço familiar produziram, não o capitalismo. Uma coisa que oito a dez horas de trabalho árduo pode suplantar, basta querer, ou talvez mais fé em deus para que ele recompense sua lealdade ou, em ultimo caso, alguns policiais armados e dispostos podem dar jeito. Trancado em casa não se vê o mundo em franca degradação, não se vê o lixo nas praias, o desflorestamento. Não se vê os reservatórios secarem. Trancado no shopping não se vê a corrupção do governo, não se vê a ganância criminosa dos investidores e especuladores. Trancados, tratam com a devida distância os elementos que vem de fora. A doméstica, o porteiro, o zelador, a faxineira do escritório. E assim, trancados, não atentam para a febre-da-cabana, fala-se em dividir o país, pede-se a volta da ditadura. E trancados vão vivendo, consumindo, se consumindo.
Aparentemente, macacos, não foi somente o pequeno helicóptero que foi desenvolvido para ambientes fechados. E dentro e fora, o mundo é escamoso, vai por mim.